Teatro

     Teatro é a própria arte de representar. É também o local onde se representam peças de teatro. É ainda uma colecção de peças de teatro, isto é, de obras dramáticas, comédias, etc...para serem representadas.
     Representar é uma arte. O actor é um artista que tem a arte de nos fazer rir (comédia) ou nos fazer chorar (tragédia). O teatro é muito importante como meio de diversão e de cultura.




O BOLINHAS

1º Narrador - Era uma vez...um menino que engordava muito e crescia pouco. Em casa, os irmãos, por ele ser gordinho, redondinho, chamavam-lhe o "berlinde". E ele ficava triste, muito triste!

2º Narrador - Mais tarde, na escola, os outros meninos chamavam-lhe o "bolinhas". E ele ficava triste. Muito triste!

3º Narrador - A professora bem ensinava que não se deve tratar as pessoas por alcunhas. Mas o pior é que, às vezes, ela própria se distraía e lá lhe saia: "Bolinhas, vai ao quadro", "Bolinhas, mostra-me a redacção". E o menino ficava triste. Muito triste!

4º Narrador - Ao recreio, enquanto os outros meninos corriam e brincavam, ele ficava num canto, quieto e sozinho. E triste. Muito triste!

5º Narrador - Até que um dia pensou em não voltar à escola. Sentou-se num banco de jardim a olhar o céu, e a falar para os seus botões: não volto à escola. Não volto! E logo viu um enorme pássaro azul descer do céu, poisar na árvore em frente e cantar:



O Pássaro - Vai de novo para a escola
 Tua tristeza esquece,
           Também o Sol é uma bola.
      E ilumina e nos aquece.

Ser gordo ou ser baixinho
Não é o mais importante,
Vai mais alto um passarinho,
Que a girafa e o elefante.





1º Narrador - E o menino voltou à escola, e lá se foi resignando com a alcunha de "bolinhas".

2º Narrador - Quando já homem, voltou a ficar triste, muito triste!

3º Narrador - E isto porque um sargento, com cara de poucos amigos, lhe disse: Podes ir para tua casa. Cá na tropa não queremos "rodas baixas".

4º Narrador - Ele ficou triste, muito triste! Porque quiseste ser militar? Já que tudo que lhe lembrasse guerras o assustava.

5º Narrador - Não que ele fosse medroso, mas porque entendia que as guerras não deviam existir. Que as pessoas deviam amar-se umas às outras, e não matar-se.

1º Narrador - E ficou triste. Muito triste, por o sargento o ter chamado de "rodas baixas". Pois ele tinha um nome. Um nome próprio como os outros.

2º Narrador - E no trabalho - ele era pescador! - o mestre e a restante tripulação do barco tratavam-no por outra alcunha: "O minhocas".

3º Narrador - Pouca sorte a sua - pensava - já fora o "berlinde", em casa; o "bolinhas" na escola; o "rodas baixas" na tropa. E agora no trabalho, era o "minhocas" para aqui, o "minhocas" para acolá.

4º Narrador - Até que um dia, quando andavam  à pesca, fez-se temporal. O mar agitou-se, tornou-se muito bravo e o barco afundou-se.

5º Narrador - Então ele, que sabia nadar muito bem, lutou com coragem contra as ondas do mar. E não pensou só na sua vida. Salvou outros pescadores de morrerem afogados. 

Todos - Nesse dia, os Jornais, a Rádio e a Televisão falavam nele. E falavam no seu verdadeiro nome. E desde aí os outros pescadores nunca mais o trataram por "minhocas", mas por "Herói". Era o "Herói".

E ele estava contente. Muito contente!
E lembrou-se do pássaro azul...


O EXTRATERRESTRE 

Mário - (dirigindo-se a Rui e Carlos)
Eu vi um extraterrestre
Tenho muito que contar
Venham cá ambos ouvir
Um evento de pasmar.

Rui - (dirigindo-se a Mário)
Vai  mas é outro enganar.

Carlos
Eu não estou para te escutar.

Mário
Eram certa de oito horas
Ia eu para jantar
Quando vi do céu descer
Um objecto a brilhar.

Rui - (com ar de troça)
Era um cometa a dançar...

Mário
Era redondo e cinzento,
A luz parecia cegar
Mais veloz do que o vento
À terra o vi chegar.

Rui - (dirigindo-se a Mário)
Quando páras de brincar?

Carlos - (dirigindo-se a Mário)
Estou mesmo a acreditar.
Ah! Ah! Ah!

Mário
Nem barulho de motor
Nem asas para voar
Eu próprio me perguntei
Se não estava a sonhar.

Rui 
É altura de acordar!

Mário
Uma porta se abriu
Surgiu um ser algo estranho,
parecia um homem-rã
Mas era do meu tamanho.

Carlos - (a rir-se)
Só não era tão tacanho...

Mário
Quis fugir daquele ser
Tinha íman o seu olhar
E passado pouco tempo
Estava com ele a falar

Rui - (dirigindo-se a Mário)
Acorda e tem maneiras,
Ainda estás a sonhar!

Carlos - (dirigindo-se a Mário)
Deixa-te de brincadeiras,
Não estou para te aturar.

Rui - (dirigindo-se a Carlos)
Será que a história acabou?
O certo é que ele pirou!
Ah! Ah! Ah!

Extraterrestre - (surge de repente)
O vosso amigo não mente
Olhem bem, estou presente!

Rui - (espantado a gaguejar)
E assim tão de repente?

Carlos
De onde vem? 
Conte à gente.

Extraterrestre
Venho há muito a viajar.
Venho de outro planeta
Quero na Terra ficar.

Rui
Mas porquê em Portugal, 
se não tem aqui raízes 
E há tantos outros países?!

Extraterrestre
Portugal é especial
Tem muito sol e tem mar.

Carlos
Tal não dá para acreditar
Pois não é só Portugal
Que tem muito sol e mal.

Extraterrestre
É um povo hospitaleiro,
Eis porque é o primeiro entre todos o escolhido.

Mário - (dirigindo-se a Rui)
Mas como pode saber
Tendo só chegado à pouco?!

Carlos
Também quero perceber
Mas estou a ficar louco!

Extraterrestre
Estudamos longos anos
O vosso planeta Terra.
Nossa missão é de paz
Jamais desejamos guerra.

Rui
Gostava de acreditar.

Carlos
Mas como podem provar?

Extraterrestre
Basta apenas reflectir
As provas são de respeito,
Querendo a Terra destruir 
Já o teríamos feito.

Mário
Nesse caso são reais
As notícias dos jornais
Sobre visão de ovnis?

Extraterrestre
Sim, são reais, mas há mais
Uma razão da escolha
Deste encantador país.

Mário
Diz qual é, estou tão feliz!

Extraterrestre
Ser um País de poetas,
único entre os planetas!

Rui
Não será já fantasia?

Extraterrestre 
Amas tanto a poesia
Que o dia de Portugal
Que vibra nos corações
Não revela cortesia
A Rei ou a General
Mas ao Poeta Camões!


Retirado do Livro: "Cardoso, Fernando. in Novíssimas Flores para crianças. 9º edição"